sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Tudo muda um dia (ou mudam você)


Tudo andava tão esquisito. Saí do mundo relembrando meu passado, que de tão distante, deitou a cabeça no meu ombro. As memórias pesam, ainda mais aquelas que não conseguimos esquecer. A dor no ombro nem deixou dúvidas, nem ao menos de ouvidar das memórias, até a enxaqueca dar as caras.

Ela era linda, toda nua mais ainda, pois era farta. Hoje eu já estou velho, reparo mais no conteúdo, tipo papo careta. Toda despida, ela é um arraso, meu lado bem safado. Corpo grande, assim como o meu. Daqueles que não conseguem ser magros sem serem esquisitos. Curvas no lugar certo, tudo empinado, olhando para nossos olhos. Junto ao meu corpo, um encaixe gostoso.

Às vezes eu quero esquecer o que a gente pode se lembrar. É armadilha da mente, pois a consciência é sempre presente, no passado era, no futuro será. Eu fechei os olhos e aquela boca vinha me olhar... me beija, me fazendo suar.

O alarme tocou e eu levantei . “É cedo para amanhã”, foi o que pensei. “Preciso parar e aproveitar tudo o que me é provido”



Via apenas homens carecas ou com pouco cabelo, com rabos krishnas, rodeados de máscaras que já não me serviam. Ouro, moeda de troca que nada vale mais, é a minha eterna guerra de valores. Enxergava os cavalos cabeçudos e seus cavaleiros bigodudos. Daqui da janela olhando para a praça em forma de losango vermelho-paixão.

Neste dia a vila toda se reuniu. Como pode ela ter crescido em lugar tão esquisito. Minha donzela morava em vila estranha. A comunidade era muito fria, escura, cheia de agonias.

Quando ela entrou pela porta, sorriu para mim. Eu vi naquele rosto branco uma boca vermelha que já não era mais minha. O rosto marcado pela maquiagem leve. Sua singeleza e propriedade. Velha nova senhora que me afligia em sonhos tarados. “Já é hora de deitar? Preciso de um comprimido”

Lá ela vinha com sua roupa de santa, “desculpe, você não me engana”. Toda de branco meio cinza “para mim isso é até triste”, vestido longo, sapato gelo-geladeira “to fora”. Casamento é coincidência, de fatos, de retalhos, de esquisitices. Naquele dia, tentei me procurar aqui dentro de mim, vi que eu me mudei daqui.

Era a mulher do dia. Maquiagem para disfarçar os traços já estragados por um tempo que chega para todos e também chegou para mim, de forma tão dolorida. “O que dói para você, dói também para mim? Não, hoje o amor que encontro em ti é a dor que encontro em mim”.

Muito velha, já estava na hora de se casar. Eu pensei que sofreria se não viesse e se não a visse, mas o martírio foi ainda maior vendo tudo da primeira fila.

Podia ser o tempo, o dia ou o entardecer que entristecia em mim o desejo que um dia floresceu. “Toda flor murcha”, minha avó dizia.

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