quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Medo da Dor (ou será o medo do medo?)

O medo de sangue nem sempre morou em mim. Minha alma é velha e quando veio para o mundo era pura deste sentimento que hoje me assola. Atualmente esta fobia se estende aos médicos, seus trabalhos, seja quais forem eles, e todo a assunto relacionado a doença e sua convalescença.

O medo foi só uma consequência. Causando pânico por qualquer emoção em conexão a médico e a possibilidade de ficar débil.

Eu era apenas um garoto de uns 3 ou 4 anos como todos os outros, tendo problemas iguais ao de todos os meninos da minha idade. Contratempos, desses de meninos. Em uma época em que tudo era possível, só bastava abrir as janelas da minha imaginação. É desde cedo que toda sensibilidade é plantada.

Na realidade, parece que eu nem saberia dizer quando isso tudo começou.

Eu tinha uma hérnia em mim. Precisava operar. Sempre perguntei que raio de doença tinha esse nome. Esta palavra feia que até o dicionário fica meio reticente em traduzir para uma linguagem que fácil entendamos.

A tarde era intensa. Dessas de corridas de bicicleta em casa, com os primos. Lembro tudo perfeitamente. Só fechar os olhos. Minha bicicleta tinha rodinhas do lado da roda traseira como apoio para eu aprender a andar sem cair. De tão rápido que eu estava naquela volta bati no vaso de plantas de casa, pois as rodinhas não me deixaram fazer a curva. Nunca pensei que o vaso poderia ser tão duro.

O guidão entrou dentro em mim. A hérnia teve que ser operada as pressas, assim como o rasgo feito. Depois da batida não lembro muita coisa. Sangue, muito sangue. Desmaio. Hospital.

Tenho certeza que os medos e as incertezas, a impureza, nossas loucuras de todo dia, a coragem e a personalidade são construídas nessa fase da infância, entre atos e desatinos. Tempo bom de fabricar as coisas sem maiores receios dos riscos. Onde prevalece a tentativa mesmo que o resultado seja sempre errado. Há graça em quase tudo.



Acordo atordoado no hospital e todo grudado em curativos que demoraram a sair, da minha vista e da minha cabeça. Minha alma foi machucada, cravada em desespero. Da cintura para baixo eu nem conseguia olhar. Tinha dores sempre que queria urinar e morria por dentro todas as vezes que tinha retorno médico.

Vendo o hoje nem dá para imaginar toda essa perturbação. Parte dela eu venci vendo o parto de minha filha. A outra metade é bem viva, aparece de tempos em tempos. Me faz ficar inerte. Vejo ela neste berço e de outro lado todo esse amontoado de emoções . Tenho esse pavor excêntrico, que embrulha o estômago, destes que poucos têm. Pessoas estranhas, receios esquisitos.
Esta fobia se desenvolveu aos poucos e muitas vezes parece maior do que eu.

As vezes é complicado voltar para trás, embora haja mais coisas boas do que ruins para contabilizar. Melhor  é sempre continuar em frente, tentando fazer um hoje alternativo. Mesmo que seja por um instante, feliz, sem qualquer tipo de dor. Na tentativa de eliminar o que te mata da melhor forma possível.

Como voltar no tempo e poder viver tudo mais intensamente e de uma forma um pouco diferente?

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